As fake news tornaram-se uma grande ameaça política e pessoal em todo o mundo - basta observarmos a quantidade de informações falsas sobre saúde que correm nas redes sociais e aplicativos de mensagens. Os brasileiros acreditam em notícias falsas mais do que a maioria das pessoas no mundo, aponta pesquisa do instituto Ipsos em 27 países realizada em 2018. Segundo o estudo, 62% dos brasileiros acreditam em uma notícia que, na verdade, era boato.
A disseminação de informações incorretas sobre vacinas tem resultados fatais: as taxas de cobertura vacinal no Brasil atingiram os níveis mais baixos, após 16 anos, em 2017.
Nos últimos dois anos, as coberturas vacinais entre menores de 1 ano de idade foram inferiores ao mínimo desejado, segundo dados do Ministério da Saúde. O problema permanece crítico: dados recentes revelam que apenas 88% da população-alvo foi vacinada contra sarampo em todo o país em 2019 (o percentual mínimo para a eliminação desta doença é 95%), enquanto 100 municípios vacinaram menos de 50% da população-alvo contra a poliomielite.
Uma nova pesquisa sobre como a desinformação antivacinas pode estar reduzindo as taxas de cobertura vacinal no país revela que de cada dez pessoas entrevistadas, sete disseram que acreditaram em pelo menos uma notícia falsa sobre vacina. O estudo foi realizado pela ONG Avaaz em parceria com a Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim). O IBOPE conduziu 2002 entrevistas em setembro de 2019 para avaliar a percepção dos brasileiros sobre vacinas e como as fontes de informação utilizadas por eles estavam impactando as escolhas em relação à vacinação.
O estudo destaca que a desinformação está impedindo as pessoas de se vacinarem: 57% dos que não se vacinaram ou não vacinaram uma criança citam uma razão que é considerada incorreta pela Sbim ou OMS (por exemplo, que as vacinas não são necessárias). As redes sociais e os aplicativos de mensagens estão entre as principais fontes de informação sobre vacinas: 48% relataram ter as redes sociais e o WhatsApp como uma das principais fontes de informação sobre vacinas. Segundo a pesquisa, as pessoas que se informam sobre vacinação em redes sociais ou aplicativos de mensagens correm maior risco. A proporção de pessoas que acreditam em desinformação sobre vacinas é maior entre os que usam redes sociais e/ou WhatsApp como fonte de informação - 73% contra 60% para quem cita outras fontes.
A fim de conter a epidemia de desinformação sobre vacinas, a Kinder esclarece principais dúvidas sobre vacinas. Essas respostas foram obtidas no site Família Sbim, membro da Vaccine Safety Net, uma rede internacional de portais que oferecem informações confiáveis sobre vacinação, coordenada pela OMS. Além disso, caso receba alguma notícia sobre saúde, verifique a veracidade junto ao canal Fake News do Ministério da Saúde (http://www.saude.gov.br/fakenews), antes de repassar.
1. Vacinas são seguras??
Foi por meio das vacinas que conseguimos erradicar a varíola e controlar diversas doenças, como a poliomielite (paralisia infantil), o sarampo, a coqueluche e a difteria, entre outras. Isso comprova a eficácia das vacinas em promover proteção com segurança. Eventuais reações, como febre e dor local, podem ocorrer após a aplicação de uma vacina, mas os benefícios da imunização são muito maiores que os riscos dessas reações temporárias. É importante saber também que toda vacina licenciada para uso passou antes por diversas fases de avaliação, desde os processos iniciais de desenvolvimento até a produção e a fase final que é a aplicação, garantindo assim sua segurança. Além disso, elas são avaliadas e aprovadas por institutos reguladores muito rígidos e independentes. No Brasil, essa função cabe à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão do Ministério da Saúde (MS). E não é só isso. A vigilância de eventos adversos continua acontecendo depois que a vacina é licenciada. Isso possibilita continuar monitorando a segurança do produto.
2. A vacina pode causar doença?
Existem dois tipos básicos de vacinas: as inativadas (de vírus morto) e as atenuadas (de vírus enfraquecidos). As primeiras são produzidas por diferentes tecnologias que inativam os agentes infecciosos — geralmente são usados partes destes agentes, sem conteúdo genético, ou seja, sem vida. Portanto, não há qualquer possibilidade de causarem doença. Já as vacinas atenuadas são produzidas de forma a enfraquecer a ação do agente agressor. Ao serem administradas, ele se multiplica no organismo o suficiente para estimular uma resposta imunológica adequada e segura. Porém, a pessoa pode, ocasionalmente, apresentar reações semelhantes às da doença, só que muito brandas.
3. Vacinas tem vários efeitos adversos?
A maioria das reações são geralmente brandas e temporárias, como uma dor local ou uma febre de curta duração. Eventos graves de saúde são extremamente raros e cuidadosamente monitorados e investigados. É muito mais provável que uma pessoa adoeça gravemente por uma enfermidade evitável pela vacina do que pela própria vacina. A poliomielite, por exemplo, pode causar paralisia; o sarampo pode causar encefalite e cegueira; e algumas doenças preveníveis por meio da vacinação podem até resultar em morte. Os benefícios da vacinação são muito maiores que os riscos dessas reações temporárias.
4. A aplicação de muitas vacinas em um mesmo dia faz mal?
Não. A segurança da aplicação simultânea de vacinas e/ou de vacinas combinadas (contra mais de uma doença) é comprovada cientificamente e não sobrecarrega o sistema imunológico. Para se ter uma idéia, durante um resfriado ou uma dor de garganta, uma criança é exposta a quantidade maior de germes do que quando recebe vacinações. Nosso organismo está preparado para responder de forma adequada, ou seja, para produzir os anticorpos que serão estimulados pelas vacinas.
5. Se eu não souber se já tomei determinada vacina, posso me vacinar novamente? Tomar doses a mais da mesma vacina causa algum mal?
O recomendado é a vacinação. Não há problema em repetir doses.
6. Se eu esquecer de tomar alguma dose de vacina durante muito tempo, preciso recomeçar do zero o esquema de aplicação?
Não é necessário. O lema da vacinação é "dose dada é dose contada". Se foi feita uma dose há muito tempo, você deve continuar o esquema respeitando o intervalo entre as próximas doses. Por exemplo: para se proteger da hepatite B são necessárias três doses. Se foi feita apenas a primeira, você deve completar o esquema recebendo as duas doses restantes, independentemente do tempo transcorrido. Portanto, independentemente do tempo entre uma dose e outra, retoma-se o esquema vacinal a partir da dose que foi feita.
7. É melhor ser imunizado por meio da doença do que por meio de vacinas?
Não. Todas as doenças infecciosas preveníveis por vacinas são potencialmente graves, com registro de hospitalizações, sequelas ou óbitos. A catapora, por exemplo, pode acometer qualquer pessoa não vacinada, e o risco de ocorrer a forma mais grave da doença aumenta com a idade, inclusive com possibilidade de hospitalização e complicações no sistema respiratório e neurológico, pneumonia e infecções de pele, entre outras. Há ainda outra questão: quem contrai catapora tem grande chance de desenvolver herpes zóster, principalmente após os 60 anos. Essa doença é causada pelo mesmo vírus — o varicela zóster — e provoca dor, em alguns casos incapacitante, e muito desconforto. Portanto, a falta da proteção oferecida pela vacina não deve ser considerada uma boa opção, seja para crianças, adolescentes ou adultos. E mais: todas as doenças preveníveis por vacinação com freqüência requerem o afastamento das atividades cotidianas.
8. A vacina da gripe causa gripe?
Não. A vacina da gripe usa vírus inativado (morto) em sua composição, portanto, NÃO é possível que provoque a doença. É importante destacar que a função da vacina é prevenir. A vacina da gripe previne contra os principais vírus causadores da doença, como H1N1 e H3N2. Se a pessoa que foi vacinada já estiver infectada, vai desenvolver a doença. Por essa razão é tão importante se vacinar antes do início da temporada da gripe. Vale destacar que sintomas de outras doenças (ex. resfriado) podem ser confundidos com o da gripe. Os eventos adversos mais comuns após essa vacinação são: dor, vermelhidão e inchaço no local da aplicação. Febre baixa, dor de cabeça e muscular também podem acontecer.
9. As vacinas contêm mercúrio? É perigoso?
O mercúrio é um dos componentes do timerosal, um conservante de vacinas. O timerosal já não faz parte da formulação de nenhuma vacina em apresentação monodose, estando presente apenas em vacinas multidoses (mais de uma dose por frasco). Ele é empregado desde 1930 em concentrações muito baixas para evitar a contaminação por fungos, bactérias e outros microrganismos, e os estudos mostram que não há risco para a saúde, pois é expelido rapidamente do organismo.
10. Vacinas causam autismo?
Não. Em 1998, foi publicado um artigo em que o autor afirmava ter encontrado relação entre a vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) e o autismo. Mais tarde, descobriu-se que ele havia recebido pagamento de escritórios de advocacia envolvidos com processos de indenização contra indústrias farmacêuticas. O autor foi criminalmente responsabilizado, teve o registro médico cassado e o artigo foi retirado dos arquivos da revista Lancet, onde fora publicado. Infelizmente, sua publicação desencadeou um pânico que levou à queda das coberturas de vacinação e subsequentes surtos dessas doenças.
Inúmeros estudos sérios têm sido conduzidos para verificar a relação entre a vacina e a doença e nenhum encontrou qualquer evidência. Um dos maiores foi divulgado em 2015 e avaliou 95.727 crianças nos Estados Unidos, entre 2001 e 2012. A análise dos dados mostrou que a vacinação com uma ou duas doses da tríplice viral não estava associada com um risco aumentado de Transtorno do Espectro Autista (TEA) em qualquer idade.
11. Gestantes podem tomar vacinas?
Algumas vacinas, como a da gripe, da hepatite B e da difteria, tétano e coqueluche são especialmente indicadas a gestantes, para a proteção delas e também do feto e do bebê após o nascimento. A aplicação de outras vacinas inativadas deve ser avaliada pelo médico, considerando cada caso (riscos individuais, moradia em região endêmica para determinadas doenças, ocorrência de epidemias, etc.). As vacinas atenuadas (febre amarela, tríplice viral, varicela, herpes zóster) em geral estão contraindicadas. É importante lembrar que a gestante deve sempre consultar seu obstetra antes de se vacinar.